segunda-feira, 22 de julho de 2013

Fim da turnê Redescobrir de Maria Rita. Saldo positivo ou negativo?



Maria Rita decidiu encerrar oficialmente a turnê Redescobrir – na qual cantava canções de sua mãe, Elis Regina – no último sábado, 20 de julho, no Credicard Hall, em São Paulo.

O show ficou pouco mais de um ano em cartaz e a história dele é bem conhecida. Mas, recapitulando, brevemente: começou com o nome Viva Elis dentro de um projeto criado pelo produtor João Marcello Bôscoli, irmão de Maria Rita, para marcar os 30 anos sem Elis. A ideia, que também abarcava uma exposição e um livro biografia (ainda não lançado comercialmente) sobre Elis, foi comprada pela empresa Nivea, que patrocinou cinco shows gratuitos nas principais capitais brasileiras.

Com a boa recepção do projeto, Maria Rita decidiu, segundo ela, por conta dos inúmeros pedidos de fãs que queriam ver o show, transformá-lo em turnê. E mais: em CD e DVD registrados ao vivo em 11 de agosto de 2012, em São Paulo, que inauguraram seu contrato com a gravadora Universal.

‘Mercenária’, bradaram alguns. ‘Está imitando a mãe’, disseram outros. ‘Esse show é um karaokê, disseram- me alguns amigos e colegas de profissão (todos profissionais qualificadíssimos – e viva a diferença de opinião!), diante da minha empolgação com o show.

Jair Rodrigues – antigo parceiro da Elis – mandou Maria Rita se achar. O crítico Zuza Homem de Mello disse que o projeto é uma “inutilidade absoluta.

Alheia a tudo isso, Maria Rita seguiu. Deu a cara à tapa, mesmo sabendo que ficaria à sombra da mãe no palco. Inevitável. E duvido que ela mesma não tivesse absoluta certeza disso. “Estou aqui mais como filha do que como cantora”, avisava a cada apresentação.

Assisti ao show sete ou oito vezes. Uma logo no início, em Porto Alegre, ainda com o nome Viva Elis. Vi a gravação do DVD. Estive no último show da turnê. Sempre fui, como disse no passado, esperando ver Maria Rita cantando músicas da Elis. Nada além disso.

Redescobrir fez mais bem do que mal a Maria Rita. Trouxe amadurecimento para a cantora. Traquejo. Pelo desafio, foi preciso se superar. Alguns exemplos: se nas primeiras apresentações ela parecia não ter mergulhado no turbilhão emocional da difícil Bolero de Satã (Guinga/Paulo César Pinheiro), ao longo da turnê ela foi ficando à vontade nos versos e na melodia que, no passado, foram cantados por Elis em dueto com o mestre Cauby Peixoto. Tatuagem (Chico Buarque/Ruy Guerra), que me pareceu muito estranha na apresentação de Porto Alegre, foi outra que entrou no eixo ao longo da turnê. Essa última, aliás, virou ‘momento suspiro’ do show.

Há que se destacar a excelente forma vocal de Maria Rita. Na gravação do DVD, depois de um show de quase duas horas, voltou ao palco para refazer algumas canções. Repetiu várias vezes. Talvez tenha cantado por quase três horas. Nenhum sinal de cansaço. 

A voz da Maria Rita também ganhou potência. A maturidade está lhe trazendo tons mais graves.

Avessa a polêmicas e quase obsessiva com sua privacidade, nem mesmo a troca de empresário no meio da turnê (saiu Cajaíba Jr e entrou Marilene Gondim, profissional que também cuida da carreira de Ana Carolina) - e essas trocas costumam ser traumáticas ou combustíveis para manchetes – foi percebida. A turnê seguiu sem problemas.

Perfeccionista, a cantora se cerca, não só de uma competente produção, como também de grandes músicos. Liderados por Tiago Costa (piano e teclados), Davi Moraes (guitarra), Cuca Teixeira (bateria) e Sylvinho Mazzucca (baixo acústico e elétrico) sempre mostraram competência.

Mas o que vem agora? Maria Rita disse, em algumas entrevistas, sem revelar maiores detalhes, que já tem projetos, que está selecionando repertório. Embora eu sinta que ela tenha muita vontade de fazer algo parecido com o Samba Meu (seu terceiro disco), torço para que ela não caia nessa tentação e faça algo mais próximo do seu primeiro trabalho (Maria Rita, 2003) ou do Elo (2011,disco que precedeu o Redescobrir).

Com um disco/show mais centrado em suas interpretações – sem a grandiosidade do Samba meu (o show) e sem a sombra de Elis no palco – Maria Rita poderá dar continuidade a sua evolução como cantora, manter o público que conquistou com o Redescobrir – e ele era visivelmente diferente do Samba Meu – e reconquistar os anti-Redescobrir.

A tarefa não será fácil.

Maria Rita canta Madalena no último show da turnê Redescobrir

 

P.S. Duas ou três sugestões para Maria Rita:

Inevitavelmente, mesmo com um novo trabalho, Maria Rita terá que seguir cantando uma ou outra música da Elis em seus shows. Além de Doce de pimenta, talvez a canção que a Maria Rita mais assumiu no Redescobrir - e ela não deveria abandoná-la - sugiro que ela grave Giro (Antonio Adolfo/Tibério Gaspar), lançada por Elis em 1969. Tem a cara dela, reparem.

Outra: gravar Sol de primavera, do grande (e esquecido) compositor mineiro Beto Guedes. “Quando entrar setembro/e a boa nova andar nos campos”. O motivo? Muito especial. Mas, esse, não conto.

Fotos gentilmente cedidas por Janaina Uribe